A escrita no invisível [Como um Carrossel] FIMFA Lx17

CRÍTICA
Como um Carrossel - Teatro de Marionetas do Porto
Teatro Taborda - 25 de Maio de 2017
FIMFA Lx17 – Festival Internacional de Marionetas e Formas Animadas


A companhia Teatro de Marionetas do Porto trouxe ao FIMFA um espetáculo infantil que ilustra a metáfora de que “a vida é como um carrossel à volta do sol”. O espetáculo que agora nos apresentam é uma nova versão sobre uma criação anterior de João Paulo Seara Cardoso intitulada Como um carrossel à volta do sol, apresentada em 2006. Algumas das alterações trazidas são a introdução de momentos em linguagem gestual portuguesa, a mudança de género da personagem principal e a reescrita do texto.

A personagem principal, uma menina curiosa “que não tinha pais e não sabia nada”, faz perguntas e perguntas sobre tudo e mais alguma coisa, demonstrando a curiosidade infinita que as crianças têm sobre aquilo que as rodeia e o que imaginam que as pode rodear. É baseado neste pressuposto – a curiosidade e a imaginação das crianças –, que as histórias, fantasiosas e a apelar ao imaginário infantil, se sucedem num palco vazio, enriquecido por adereços pontuais que ilustram a narrativa, trazidos para cena pelos atores. A luz de cena, da autoria de Filipe Azevedo, é delineada tanto por um ecrã, que acrescenta cor e figuras às falas dos atores, como por objetos iluminadores trazidos para palco, que conferem ao espaço cénico a intimidade e magia que é desejada no espetáculo, permitindo, ainda, criar cenários e ambientes diferentes, desde a floresta ao espaço sideral.

A personagem da menina tanto é representada por uma marioneta de desenho simples, pouco expressiva, com olhos parados e boca quase inexistente, como pela atriz Micaela Soares que lhe atribui o tom alegre e curioso associado à infância. O ator Vítor Gomes é a contracena da menina em todos os episódios: vestindo diferentes personagens vai contando a história da vaca azul (momento hilariante em que se fala numa “língua engraçada”, que os adultos identificam como italiano), do senhor Apanhadinho (“que era muito rápido”), do senhor da nuvem (“que sai com a menina na cabeça”), do senhor dos pássaros e do senhor que “escrevia no invisível e a menina percebia tudo”. Também é Vítor Gomes quem arranca os “oh!”s de espanto da plateia, com as suas coreografias hip-hop, pinos e saltos gímnicos, com que caracteriza as suas personagens, usando gestos e movimentos diferenciados. 

Se a simpatia das crianças vai para as acrobacias, já os adultos ficam a sonhar com essa máquina maravilhosa, o “resolvedor de problemas”, que resolve poemas bicudos, depois de arredondados e grandes, dividindo-os em bocados.

A linguagem gestual, para um público que a desconhece, é mais uma coreografia bonita do espetáculo e um momento em que tentamos adivinhar e compreender a “escrita no invisível”.

Marta Rosa (com a colaboração de Mariana Rosa)